Eu e minha amiga barriguda

As fotos da árvore paineira-branca (Ceiba glaziovii), de Antonio Preggo (@antoniopreggo), são uma cantiga para os olhos. Localizada no bairro do Alto do Moura em Caruaru, PE, ela evoca o conceito de “silêncio autêntico”, de Vilem Flusser, no livro “Língua e realidade”.

Na obra, o filósofo checo-brasileiro aponta que a conversação, a poesia e a o estado de oração, seja qual for a crença, são passos para chegar a um polo do nada, ou seja, um local de intenso encontro com algum tipo de sentido do mundo. As imagens captadas pelo fotógrafo caminham justamente nessa direção.

Endêmica do Nordeste do Brasil, ocorrendo em regiões de caatinga, a árvore é também chama “barriguda”, pelo volume da parte central o caule. Esse diâmetro maior no meio do que na base ocorre porque o local armazena água. O seu formato, a sua localização e a paisagem da região colaboram para dar intensidade as fotos.

Ameaçada de extinção, a espécie é usada de muitas maneiras pelo ser humano. Com sua madeira, são feitas caixas; e os pelos que envolvem as sementes, chamados popularmente de “lã de barriguda”, são utilizados no enchimento de almofadas, travesseiros, colchões e selas – e também no estofamento de móveis.

Há ainda o uso da casca na medicina caseira contra inflamação do fígado e para tratar hérnias. Presente em serras da região Agreste e Sertão nordestino das Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe, também pode ser encontrada no norte de Minas Gerais.

As imagens da espécie, reconhecida pelas flores brancas, que ocorrem quando as árvores estão perdendo as folhas ou sem folhagem alguma, mostram diversas facetas do exemplar específico fotografado por Antonio Preggo, à qual ele atribui inclusive a sua cura de dores na coluna.

O fotógrafo eterniza assim a relação dela não apenas consigo mesmo, mas com o entorno, em uma integração plena com diversos momentos da natureza, mostrando a importância da preservação de uma árvore específica e da espécie como um todo, pois cada uma seguramente guarda, em seu majestático silêncio, cultura e tradições.

Oscar D’Ambrosio
@oscardambrosioinsta
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista, crítico de arte e curador.