A Vida em Vinil: Uma Reflexão Filosófica Sobre as Fases e Pausas da Existência

A vida, assim como um disco de vinil, gira em espirais de experiências, emoções e aprendizados, conduzida por um ritmo invisível e única em cada detalhe. Ao nos aprofundarmos na analogia entre um vinil e a jornada humana, percebemos que ambos compartilham não apenas a continuidade do movimento, mas também as pausas, as mudanças de faixa e o processo orgânico e inevitável de amadurecimento.

Lado A: Os Primeiros Acordes

Quando o vinil começa a tocar, ele revela o Lado A – a introdução às melodias que darão forma à nossa história. Esse lado representa a infância e a juventude, as fases iniciais em que aprendemos as primeiras notas da vida. Aqui, a música é vibrante, cheia de energia e descoberta, e cada acorde traz algo novo, algo que desperta curiosidade e paixão.

Essas faixas iniciais são as “primeiras vezes”: o primeiro sorriso, os primeiros passos, o primeiro amor. Esse Lado A é uma explosão de sons desconhecidos e encantadores, assim como os primeiros anos de nossas vidas. Somos iniciantes na escuta e no toque, e ainda que sejamos guiados por uma melodia maior, mal compreendemos o que está por vir. É uma fase de aprendizado constante, onde a leveza da ignorância nos permite arriscar, explorar e experimentar cada nota.

Pausas Entre as Músicas: O Silêncio que ensina

Entre as músicas do disco, há pausas, intervalos de silêncio que, à primeira vista, podem parecer apenas momentos de transição. Na verdade, essas pausas são essenciais para apreciar o que passou e se preparar para o que está por vir. Em nossa jornada, esses silêncios representam as fases de reflexão, quando algo dentro de nós para pôr um momento e nos obriga a escutar nosso próprio interior.

Esses intervalos são, muitas vezes, os momentos de desafios ou de luto, tempos em que enfrentamos um vazio ou uma mudança. É aqui que crescemos, onde a quietude nos força a refletir sobre as notas que tocaram e a ajustar o ritmo para o que virá. Essas pausas são fundamentais para entender que a vida não é um fluxo contínuo de som, mas uma sucessão de silêncios e melodias que se complementam.

Lado B: A Maturidade das Notas Profundas

Com o virar do vinil, encontramos o Lado B, onde a música tende a ser mais madura, introspectiva e, por vezes, melancólica. Esse lado simboliza a fase adulta e a velhice, momentos em que a intensidade inicial dá lugar a uma compreensão mais profunda e muitas vezes resignada. As notas são mais densas, os arranjos mais complexos, e cada acorde parece carregado de uma sabedoria que só o tempo pode proporcionar.

Aqui, o som já não é feito apenas de energia juvenil; ele é temperado pelo que foi vivido e assimilado. As músicas desse lado têm tons mais sóbrios, que refletem os altos e baixos enfrentados, os sonhos realizados e aqueles deixados para trás. O Lado B nos ensina a beleza do amadurecimento, a encontrar harmonia em notas que antes podiam parecer dissonantes, mas que agora fazem sentido como parte de uma composição maior.

As Faixas Ocultas e o Crepúsculo do Som

Alguns discos possuem faixas ocultas, músicas que surgem de repente no final, revelando segredos e surpresas inesperadas. Essas são as surpresas da vida, os momentos de realização tardia, as alegrias que surgem quando menos esperamos. São os reencontros, os aprendizados inesperados, as emoções que vêm quando acreditávamos que tudo já havia sido ouvido. Essas faixas são a prova de que, até o final, a vida tem algo novo a nos ensinar.

Quando o disco chega ao fim, ele não cessa imediatamente – um último silêncio se estende enquanto o vinil continua girando, como uma meditação profunda. Esse momento final é um convite para refletir sobre tudo o que foi tocado, as melodias que deixaram marcas e as pausas que trouxeram crescimento. Ele nos lembra que, apesar de a música parar, o ciclo da vida continua, e cada disco deixa seu legado, seu eco, nas memórias e nas histórias de quem o escutou.

O Cuidado com o Vinil: Preservar a Alma da Vida

Assim como um vinil precisa de cuidado, de ser mantido longe de arranhões e poeira para que toque sua música com clareza, nossa vida também exige atenção, cuidado e respeito. Cada escolha, cada experiência e cada pausa é como uma marca no disco, e quanto mais cuidamos de nós mesmos e de nossa jornada, mais podemos ouvir as notas da nossa própria essência.

Portanto, que possamos escutar nossa própria vida como escutamos um vinil favorito: com atenção, com gratidão e com reverência pelas pausas, pelas surpresas e pelo eco final. Porque, ao final, a beleza da vida não está apenas nas músicas tocadas, mas também na serenidade do silêncio entre elas. E viva o dia do músico 22-11

Texto – Fredi Jon