192 é o número do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU 192), que tem como objetivo chegar precocemente à vítima após ter ocorrido alguma situação de urgência ou emergência que possa levar a sofrimento, a sequelas ou mesmo à morte. A sua contextualização no mundo da arte é ambígua. Por um lado, indica que cada criação visual pode ser um ato de salvação, mas também aponta que é o término de um processo.
Nesta ilustração, a imagem da enfermeira é relacionada a caixa de sabões “Brillo”, imortalizada na célebre “Brillo Box” (1964), de Andy Warhol, deixando de ser um produto de supermercado para se tornar uma reflexão sobre a sociedade de consumo. Afinal, como aponta o filósofo e crítico de arte americano Arthur Danto (1924-2013), no livro “O que é arte”, a questão colocada pelo criador norte-americano é qual é a diferença entre uma caixa do sabão Brillo encontrada nos supermercados e as elaboradas em madeira compensada na Factory, o ateliê do mais conhecido representante da Pop Art.
A imagem de Tati Garcia traz ainda “A Fonte” (1917), o icônico mictório convertido em escultura de Marcel Duchamp, questionando o que de, de fato, é arte. Assim, toda realização artística é talvez um instante de salvação para quem a faz e para quem observa, mas contém em si uma morte ao ser terminada. As leituras visuais que são feitas delas constituem, nesse aspecto, uma ressurreição, ou seja, uma bem-sucedida chamada ao SAMU 192.
Oscar D’Ambrosio
@oscardambrosioinsta
Pós-Doutor e Doutor em Educação, Arte e História da Cultura, Mestre em Artes Visuais, jornalista, crítico de arte e curador